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20 de novembro, uma data para ser lembrada e executada todos os dias

A matéria de hoje, não é exclusivamente sobre cerveja, mas sobre algo tão importante quanto, afinal, 20 de novembro é uma data para relembrar Zumbi dos Palmares. Novembro é um mês de referência para o enfrentamento do racismo institucional que persiste entre nós, não só no Brasil, mas no mundo todo.

Em janeiro de 2003, foi promulgada a Lei Federal n. 10.639, instituindo a obrigatoriedade do ensino de História da África e da Cultura Afro-Brasileira e Africana nos estabelecimentos de ensinos fundamental e médio. Em janeiro de 2021, a legislação completará 18 anos, ou seja, atingirá a maioridade. E não é só isso, claro! Ela também já nos deixa um legado de experiências e perspectivas para sua defesa e ampliação.

2020 um ano pandêmico e cheio de dificuldades em todos os sentidos, mas para o meio cervejeiro tem sido um tanto pesado, se você está chegando “agora” talvez não tenha entendido a referência sobre o dia da Consciência Negra e o meio cervejeiro, então para contextualizar: há alguns meses ocorreram alguns episódios de extremo racismo, um foi destinado à Cervejaria Implicantes de Porto Alegre/RS (desenvolvida e administrada por pretos), o outro aconteceu em um grupo de whatsApp (só de homens, branco e cervejeiros), onde a maioria destilaram mensagens de puro ódio e racismo contra uma mulher, preta e Sommelière (a matéria completa você confere clicando aqui). Esses são apenas dois exemplos do que aconteceu em meados deste ano, mas tem muito MAIS casos, infelizmente!

Diante disso é de suma importância relembrar que muitas vezes o mercado cervejeiro artesanal é visto como algo elitizado, exclusivo para pessoas da classe média alta ou para o público branco, mas a cerveja em sim e o movimento artesanal não são assim, não exige esse “padrão”, afinal quando estudamos cervejas podemos analisar o quando ela é democrática e agregadora, mas os seres humanos são capazes de reverter isso e criar todo um caos, que diga-se de passagem, é desnecessário.

Infelizmente ainda é comum em alguns eventos cervejeiros, os pretos serem minoria e então pergunto: Cadê o movimento de inclusão? E quando me refiro ao movimento, isso me inclui, inclui você, as cervejarias (empresários) e toda a sociedade, então pare para pensar o quanto você contribui para que esse cenário, comece a apresentar mudanças positivas, inclusive pego esse “gancho” para uma segunda reflexão – quantos empresários negros você conhece e quanto você contribui para o negócio dele ter bons resultados? Se não conhece nenhum, comece a repensar e olhar ao seu redor #ficadica!

O empreender já vem do preto desde o tempo da escravidão, porque quando eles foram lançados a esmo no fatídico 13 de maio de 1888, eles não tinham para onde ir, então começaram a empreender com o que eles tinham, porém, por mais que eles tiveram que aprender na “marra” a se virar/empreender e isso pode ter dado certo, porém, vale lembrar que, não há o que festejar nessa data. A Lei Áurea oficialmente extinguiu a escravidão, mas desacompanhada de qualquer política de inclusão social, relegou pretas e pretos à margem da sociedade.

Preconceito camuflado

Já ouviu falar em racismo inconstitucional? Eu poderia simplesmente explicar dizendo que você é racista e que nem sabe, mas pode ser que fique mais confuso, não é mesmo?! Então vamos para os exemplos, e assim ficará mais claro: “Muitas vezes temos um preto e um branco com o mesmo currículo e vemos no âmbito institucional o preto não sendo promovido devido sua cor”. Calma que têm mais exemplos: Um idoso internado em um hospital reclama com uma preta vestida de branco sobre a demora da médica, sem saber que está falando com a própria”. “Uma mulher branca e uma preta dividem um banco de metrô, a preta tem o cabelo crespo solto, estilo black power, a branca repara, acha curioso e pede para tocar nas madeixas”. Isso é racismo inconstitucional!

Ninguém quer assumir que é preconceituoso e a expressão racismo parece remeter a algo de tanto tempo atrás que já não faz parte do nosso cotidiano. Tem relação com conflito: é a divisão das pessoas com base no ódio, o enfrentamento de brancos e pretos, aquilo que a história contou sobre o sul dos Estados Unidos ou o apartheid (regime de segregação racial implementado na África do Sul em 1948) na África do Sul.

Obsoleto, démodé. Será? O racismo existe! Só porque não o vemos se manifestar o tempo todo não se pode dizer que ele não esteja aí. Na verdade, essa é parte do problema: o racismo que imaginamos não é simplesmente o que vemos, ele se reproduz também no invisível e no cotidiano, no que se faz e não se percebe, enfim, no viés inconsciente.

Como o mercado cervejeiro pode contribuir com esse cenário?

Antes mesmo de todos esses acontecimentos, a união de alguns sommeliers e profissionais negros do mercado cervejeiro (que ainda são poucos) tiveram o “start” para desenvolver um coletivo chamado AfroCerva, onde envolve profissionais pretos do meio cervejeiro brasileiro, onde lutam por equidade racial, capacitação e profissionalização.

E agora estão encaminhando para uma Associação, onde os trâmites jurídicos já estão sendo feitos e pretendem várias frentes de atuação, como por exemplo: projetar educação cervejeira, inserção da diversidade no mercado de trabalho, profissionalização e muito mais.

Ressalto também que, 2020 tem sido um ano divisor de águas, separando os bons dos ruins, então você não precisa ser preto para ajudar uma empresa que tenha como propósito contribuir com a comunidade preta, mas se colocar contra o racismo e contra quem propaga ódio é obrigação de TODOS, pois se omitir é fazer parte de grupos preconceituosos.

Vamos respeitar as diferenças!

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